No passado dia 12 de dezembro, numa iniciativa do grupo de História, realizou-se no auditório da Escola Básica e Secundária de Ourém, uma atividade dirigida a alunos do 7.º e 5.º anos de escolaridade que, sob a orientação do arqueólogo Pedro Cura, realizaram uma verdadeira viagem no tempo, até à pré-história.
Aqui fica o relato desta emocionante aventura, contado pela docente Telma Frazão.
Conheci o arqueólogo Pedro Cura, na Escola Básica de Pontével, para as bandas do Cartaxo, há uns bons anos e desde aí sempre que me são atribuídos níveis de 7.º ano, não resisto e convido-o para dinamizar o workshop da pré-história. Acredito que é um privilégio muito saudável trazer à escola uma atividade que junta conhecimento e respetivo acervo de fontes históricas, sobretudo da pré-história, e feitas com as matérias-primas – rochas, madeira, osso, peles - e as tecnologias de então. E apresentadas por alguém que pertence a esta fase da História. Confesso que me surpreende sempre pela positiva, pois apreendem-se factos novos, atualizam-se conhecimentos e contactamos com fontes novas; destaco por exemplo uma mochila que os caçadores recoletores traziam sempre consigo, pois deslocavam-se com muita frequência e andavam sistematicamente com os seus pertences atrás, nomeadamente mudas de roupa, peles para se protegerem do frio, cantil para a água, também o arco e flecha, pontas de seta para substituir as que se partiam..., no fundamental, aquilo que lhes permitia a vida de então. Chegavam a carregar entre 40 a 60 kilos.
Numa hora e meia, em três sessões, os alunos do 7.º ano, aos quais se juntaram os do 5.º ano, por sugestão da representante de grupo, realizaram uma verdadeira viagem ao passado, aos primeiros hominídeos e não aos macacos, como é comum, na gíria, afirmar-se. Nós pertencemos à mesma família, mas cada um seguiu a sua evolução. Dos australopitecus passamos aos homo habilis, homo eretus e homo sapiens, uma evolução também marcada pelo tempo e as próprias condições de vida. Os manuais continuam a designar de homo sapiens sapiens o homem que somos nós, atualmente sabe-se que são todos homo sapiens.
Dos primeiros instrumentos, simples lascas, hipoteticamente produzidas com um percutor no momento com simples pancadas, passamos aos bifaces e aos machados; e com a utilização de cola, feita a partir de gordura animal, foi possível aliar a madeira à rocha e tornar os instrumentos mais cómodos e funcionais.
O momento hilariante foi o da produção de fogo. Primeiro madeira a friccionar uma corda, em arco, depois com o batimento de duas pedras, uma delas com pirite de ferro, vendo-se as faíscas a saltar. A busca de diferentes materiais é sintomática da evolução ou progresso, pois com um pedacinho do interior de um cogumelo, com o batimento das duas pedras, obteve-se uma brasa que se colocou num molho de palha seca, que, depois de soprar, começou a fumegar. O Pedro não resistiu, e na última sessão solicitou a saída dos alunos para o pátio e in loco viram as chamas surgirem naquele molho de palha.
Outro momento interessante foi o da agulha utilizada para cozer as peles; e aqui foi dada a oportunidade de uma aluna vestir um vestido feito de peles, o que encantou ainda mais os alunos. A realização da pintura e gravura rupestre foi outro momento muito divertido. Ficamos a saber que as tintas são feitas de óxidos de ferro, ao qual se juntava gordura animal, e utilizavam sobretudo duas cores, o vermelho e o amarelo, e naturalmente também o preto e o branco. Dizer que as tintas são feitas de sangue, é outra ideia ultrapassada, como o arqueólogo salientou.
No final ainda se falou na invenção da agricultura, na criação de gado e o terminus com os vasos de cerâmica e instrumentos de fazer o queijo.
Ainda houve tempo para aproveitar a manusear o acervo de instrumentos que fazem parte da atividade.
É incrível como estes instrumentos, aos nossos olhos de produção tecnológica imensamente simples, permitiram ao homem resistir e adaptar-se aos novos ambientes ao longo da história da Humanidade. Por isso hoje estamos aqui, e um pouco mais ricos em conhecimentos. Isto é, esta atividade proporcionou um contacto direto e um conhecimento realístico com esta temática do programa. Daí, considerar valorativa esta estratégia de aprendizagem.
Por último, quero encarecidamente agradecer às colegas que acompanharam os alunos ao Auditório, para assistir à atividade.
Telma Gonçalves